quarta-feira, 21 de março de 2012

Entevista (por telefone) - Simone Simons

EPICA - Um apelo pela conscientização pública

Através de seu novo álbum, Requiem For The Indifferent, o Epica faz um apelo pela conscientização pública em termos de problemas econômicos e ambientais de nosso planeta. De acordo com a vocalista Simone Simons, a humanidade ignora esses problemas, voluntariamente ou não, e as pessoas vivem suas vidas de forma muito egoísta. Quando levantamos essas questões durante a seguinte entrevista, nós naturalmente nos direcionamos a um caso mais recente; em outras palavras: o debate sobre downloads causado pelo fechamento do Megaupload. A posição da Simone sobre o assunto e firme: se uma nação é economicamente estável, dada a facilidade que é o acesso à música legalmente na internet, downloads não são necessários.
Em um ponto mais musical, falamos sobre o impacto que seu último álbum, Design Your Universe, teve sobre a musicalidade da banda - um assunto no qual Mark Jansen insistiu um ano atrás. Simone pode apenas concordar: com esse álbum, a banda se estabilizou em um patamar que será base de toda a produção futura, inclusive desse novo álbum, Requiem For The Indifferent.




Entrevistador (equipe Radio Metal): Com esse título, Requiem For The Indifferent, você quer dizer que o mundo está caminhando para o fim de uma era e que a humanidade deveria abrir seus olhos. Você acha que o mundo como o conhecemos irá sofrer um colapso?

Simone Simons: Não, nós não achamos que o mundo irá acabar nem que ocorrerá um grande apocalipse. Nós esperamos que haja mudança. Esperamos que as pessoas que são atualmente indiferentes aos problemas que temos na sociedade e no mundo acordem e mudem de atitude.

E: O que você acha que acontecerá se as pessoas não abrirem os olhos?

Simone: Temos que esperar e ver. Mas através de nossas músicas e letras, nós tentamos passar uma mensagem. As pessoas deveriam começar a pensar nisso. Mas não somos adivinhadores, não podemos dizer o que vai acontecer.


E: O que as pessoas deveriam fazer, na sua opinião?


Simone: Ficar mais envolvidas, sabendo o que está acontecendo, mudando pequenas coisas em suas próprias vidas. Quando se trata de natureza, por exemplo,  nós todos podemos começar reciclando mais. Devemos usar transporte público, ou usar bicicletas, então não teríamos tantos carros poluentes nas ruas. É claro, carros elétricos são muito caros por enquanto, mas vão ficar mais baratos e disponíveis, o que é bom para o meio ambiente. Deveríamos nos envolver mais com a política, também. Já testemunhamos demonstrações há alguns meses de pessoas que vivem em ditaduras e são oprimidas. Eles tentam ser ouvidos. Muito frequentemente, não é dito nada sobre a vida de algumas pessoas ou sobre seu país. Isso se trata de fazer sua voz, sua opinião, ser ouvida pelos outros. Pensar no bem maior, não apenas em si mesmos, ser menos egoísta.


E: Muita gente sabe que devem mudar de comportamento para assim salvar o meio ambiente, mas ainda não o fazem por várias diferentes razões. Como você acha que podemos realmente convencer essas pessoas?


Simone: Isso é difícil, porque sempre vai haver o bem e o mal no mundo. Não se pode fazer com que todos pensem da mesma forma por causa de certas coisas. É impossível. Nos tentamos fazê-lo pelas nossas letras, e nossos fãs são pessoas muito inteligentes que lêm as letras e pensam sobre elas. Essa é nossa contribuição. Não queremos forçar nossa opinião sobre os outros, nós só a deixamos sobre a mesa e assim eles pensam sobre ela. É o que podemos fazer como uma banda. E, é claro, tentamos influenciar as pessoas de nossa família e amigos. É o mesmo com downloads de música e toda a pirataria acontecendo. Eu tento deixar as pessoas ao meu redor com consciência pesada se eles baixarem música, especialmente porque sou música, esse é meu trabalho. Você trabalha por dois anos pra criar um álbum que as pessoas podem baixar em um minuto pela internet sem pagar por isso. É tudo o que eu posso fazer, mas eu faço o quanto posso.


E: Você acha que as pessoas são com adolescentes? Quer dizer, acha que eles sabem que fazem algo de errado mas continuam fazendo?


Simone: Sim, porque eles querem ser legais! (risos) É como cuspir um chiclete no chão, ou jogar lixo no chão ao invés de colocar na lata de lixo. Me irrita muito. Eu não jogo um chiclete no chão há anos! Eu continuo com ele na boca até achar uma lata de lixo. São exemplos bobos como esse. Se eu jogar lixo no chão, me sinto culpada pelo resto do dia, vai contra minhas crenças. Se andamos na floresta, meu namorado até recolhe os lixos deixados pelas outras pessoas. É assim que nos envolvemos!


E: Na sua opinião, como a humanidade deixou o mundo chegar a esse ponto crítico sem reagir mais cedo?


Simone: Sempre houveram pessoas que estiveram conscientes disso e tentaram fazer com que outras pessoas abrissem seus olhos. É só que muita gente é muito egoísta e continua fazendo coisas erradas, mesmo sabendo que não deveria. Não é que as pessoas não saibam, é que elas não ligam. Elas vivem em seu próprio mundo falso e acham que nada vai acontecer com elas. Muitas pessoas não são gratas por serem tão privilegiadas até que algo aconteça. O Epica está envolvido com caridade, e eu recentemente doei uma roupa de palco muito especial, que foi vendido por muito dinheiro para um francês. O dinheiro foi para uma organização pelo câncer de mama. Eu sou saudável, mas isso não significa que não penso sobre isso. Eu também quero investir no futuro e ajudar a encontrar um tratamento melhor para essa doença. Essa é a nossa contribuição para fazer do mundo um lugar melhor.


E: Hoje em dia, crises financeiras são tão assustadoras que até mesmo os músicos falam sobre em suas músicas. Você acha que essa é uma das crises mais importantes que já enfrentamos?


Simone: Como músico, você sente isso, porque muita gente não compra mais CDs, eles apenas baixam. O governo também está investindo menos dinheiro em eventos culturais. Então nós sentimos isso. Em certos países, nós temos que pensar em quanto cobrar por um ingresso. Ontem, eu conversei com alguém da Grécia, e ele me perguntou se iríamos baixar o preço dos ingressos, porque as pessoas não podem pagar por eles mais. É triste pensar que dinheiro é tão importante e pode destruir tanto. Espero que não, mas pode  significar o fim da União Europeia. Países como a Alemanha, por exemplo, estão investindo muito na Grécia para que eles voltem à ativa, mas é uma bagunça complicada!


E: O que você acha das notícias a respeito do fim do Megaupload?


Simone: Eu acho que é algo bom. Mas eu estou no Twitter, e eu leio alguns retweets. Alguém escreveu que um molestador de crianças vai pegar sete anos de prisão, e alguém que envia música ou filmes para a internet é preso por quinze anos. Não deveria ser assim. Eu sei que o mundo do envio e download de arquivos é enorme, e que afeta a muita gente. Mas ainda não é tão eticamente errado quanto molestar uma criança, por exemplo. Há um impacto sobre muito menos pessoas, é claro, mas é algo com que você terá que conviver pelo resto da vida. Pirataria é um assunto unicamente econômico. É sobre perder dinheiro porque as pessoas estão baixando arquivos, mas não é tão sério quanto molestar uma criança. Isso sim deveria ser punido com cem anos de prisão. Pirataria deveria ter uma punição diferente. 


E: Muitas pessoas, incluindo músicos, dizem que esse site era uma coisa boa, porque se as pessoas pudessem baixar música de graça, os artistas veriam mais pessoas em seus shows. De certa forma, ele ajudou a banda a conseguir ganhar notoriedade no mundo.


Simone: Em alguns países, muita gente simplesmente não pode pagar pelo CD, mas eles vão sim aos shows. No México, por exemplo, há um enorme mercado ilegal. Quando eu estava andando pela cidade, eu vi uma cópia de um álbum do Epica entre os maiores cantores pop do mundo. Eu achei engraçado, até tirei uma foto dele. Você pode tentar lutar contra isso, mas nesses países, o mercado ilegal é enorme. Mas aí, as pessoas vão aos shows. Você pode fazer uma turnê por lá e terá ótimos shows. No final, não  quer dizer que as pessoas não irão aos shows porque elas têm o álbum em casa!


E: Então, de certa forma, é algo bom?


Simone: Nesses países, não é ruim. Mas países nos economicamente sucedidos da Europa - não todos eles, mas a maioria - não deveriam fazer downloads. Não digo que download seja uma coisa boa. É um problema que tentamos combater. Eu tenho que admitir que baixei algumas músicas, para ver se gosto da música, mas então comprei o CD. Hoje em dia, todos têm um iPhone ou iPod, e você pode baixar músicas online por um preço reduzido. Todo mundo gosta de ter suas músicas nos mp3 players, mas os colecionadores gostam da coisa real, o CD e o encarte, essas coisas. Eu baixo muita música no iTunes. Você paga mais ou menos sete euros a menos, que eu acho bom. E legalmente.


E: O outro lado da moeda sobre o fechamento do MegaUpload é as pessoas reclamando que isso seja um atentado contra sua liberdade. Você acha que as pessoas são como crianças? Foi-lhes dado muito, e agora elas estão acostumadas a ouvir música de graça, sem pagar ao artista?


Simone: Eu acho que, porque todos estão na internet, assim como a música, parece que você não está roubando. As pessoas não vêm isso da mesma forma como ir a uma loja, escondendo um CD na roupa e saindo de lá. Mas é basicamente o mesmo. Por sorte as pessoas ainda compram os álbuns e vão aos shows. Espero que as pessoas finalmente passem a ver isso como roubo. Até alguns parentes e amigos meus fazem download, e eu digo a eles que isso é errado. Eles dizem: "É, mas está na internet, não tem etiqueta de preço". Não é todo mundo que entende, e os adolescentes são teimosos mesmo! Eles fazem o que bem quiserem e são muito egoístas. Não é só sobre como os adolescentes agem, mas sobre como os pais lidam com isso. Pra mim, como música, é importante que as pessoas saibam que fazer download é ilegal e afeta os músicos. Todo mundo pensa: "Sou só eu", mas não é. Todo o problema de download é uma praga.


E: A arte do álbum mostra alguém se levantando de algum tipo de mundo caótico e industrial, e encontra uma chave em uma árvore. Você acha que, para encontrar a solução de todos os problemas, a humanidade precisa voltar a ser próxima da natureza?


Simone: Sim. Nossas vidas agora giram em torno do materialismo, enquanto a chave das coisas é saúde, comida e a terra em si. Nós tentamos encontrar recursos fora do natural. Não precisamos de todo o materialismo. A mulher da capa está nua, ela tem um número no braço. Ela é só mais uma no meio de tantas que foram destruídas pelo lado materialista da vida. Ela está basicamente tentando pegar ar fresco e escapar desse mundo. É meio que uma capa fácil em termos de interpretação.


E: A música do Epica está ficando menos e menos acessível, mais sombrio e mais agressivo. Isso é por conta do jeito que vocês vêm o mundo evoluir? Tem impacto no seu modo de escrita?


Simone: Não, na verdade não. E eu discordo, porque vejo o Requiem For The Indifferent, sem ser comercial, mais acessível que o Design Your Universe. Ele tem um toque de peso, mas não é porque vemos o mundo como obscuro. É também porque temos dois membros novos na banda, que estão mais envolvidos no processo de escrita e dão uma pequena mudança à nossa música. Não é porque temos uma visão negativa do mundo. A música só tem que combinar com a letra.


E: No ano passado, Mark Jansen disse que vocês estavam muito orgulhosos de seu álbum Design You Universe e, então, gostariam de manter o mesmo espírito em seu novo álbum. Por que esse álbum foi tão especial para vocês?


Simone: Boa pergunta! Eu acho que em todo álbum você está sempre feliz com o resultado. É especial por ser novo, é excitante e você não sabe o que as pessoas vão achar dele. Mas eu ainda acho que o Design Your Universe é ótimo, não é menor que o Requiem For The Indifferent. Com o Design Your Universe, nós fundamos uma base em termos do estilo que queremos explorar. A música não vai mudar muito com relação ao Design Your Universe. Nós só vamos acrescentar alguns elementos para refrescá-la um pouco, mas vamos nos manter fiéis à nossa música.


E: Mesmo com um novo cd saindo, você ainda acha que o Design Your Universe é o melhor álbum do Epica até agora?


Simone: Não o melhor, mas um dos melhores!


E: Em relação ao que dissemos sobre o Design Your Universe, você não tem medo de impedir a banda de uma evolução por tentar encontrar novamente a química que vocês tinham nesse álbum?


Simone: Ah, não. Quer dizer, não podemos de repente começar a tocar Trash Metal. Você tem que, de alguma forma, manter os ingredientes principais que compõem a música e adicionar novos elementos para deixá-la mais surpreendente. Por exemplo, nas músicas que foram escritas pelo Isaac, que são Monopoly On Truth e Deter The Tyrant, as guitarras são mais melódicas assim como têm mais atenção. A música continua épica e muito sinfônica, mas nós queremos incluir novos ingredientes e não mudar a receita inteira.


E: Então você acha que uma banda não pode mudar de estilo radicalmente?


Simone: Se você achar natural quando começar a escrever as músicas, se você de alguma forma não gosta do que fez anteriormente, você tem que ser livre pra fazer a música que quiser. Mas nós decidimos fazer a nossa música nesse gênero, Metal Sinfônico, mas não quer dizer que eu não posso mudar um pouco meu vocal, ou que não podemos mudar o estilo das guitarras. Mas o sentimento geral continua o mesmo. Mas se um dia nós acordarmos e decidirmos que não gostamos mais dele, é claro, nós podemos mudar e virar uma banda de Hip-hop! Mas eu acho que essa chance é muito, muito pequena!


E: Tem mais solos de guitarra nesse álbum. Isso é algo que foi decidido antes de entrar no estúdio, tipo: "Precisamos de mais solos"?


Simone: As músicas já estavam quase finalizadas, e estávamos no estúdio na Alemanha para uma sessão fotográfica. Um dos caras disse: "Eu acho que as músicas poderiam ter solos de guitarra". Nós meio que decidimos no último minuto que duas músicas deveriam ter solos acrescentados a elas. O Isaac é um ótimo guitarrista, então dissemos pra ele extravasar em algumas músicas.


E: Setembro passado, vocês ofereceram aos fãs no Facebook a possibilidade de escolher o show de abertura para a turnê europeia. Como vocês tiveram essa ideia?


Simone: Nós queremos saber do que os fãs gostam e estar disponíveis a ter esse encontro com bandas que são populares. Nós queremos nos manter em contato com os fãs pelo Facebook e pelo Twitter, e achamos que é importante saber do que eles gostam, então podemos tentar e incluir isso ao que estivermos fazendo.


E: A gravadora e os administradores podem dizer não para o que a banda e os fãs escolheram?


Simone: Não, nós temos a liberdade de levar quem quisermos em turnê conosco. Por exemplo, se levarmos outra banda da gravadora, há maior chance de a gravadora dizer: "Queremos investir nessa turnê". Para eles, é claro, é uma vantagem se escolhemos uma banda da mesma gravadora. Mas podemos levar quem quisermos na turnê.


E: Então isso vai mesmo acontecer? As bandas que sairão em turnê com vocês são as escolhidas pelos fãs?


Simone: Bom, por exemplo, se os fãs disserem que querem o Sirenia como abertura, não quer dizer que poderemos trabalhar com eles. Nós podemos contatá-los e ver se estão interessados. Eles também têm que querer. É uma combinação de vários fatores antes de poder se concretizar. Mas os fãs podem ter a vez de dar uma ideia ou sugerir um nome para nós. E, então, temos que levar uma série de fatores em consideração antes que isso possa acontecer.


E: Nesse caso, que bandas foram escolhidas pelos fãs?


Simone: Eu acho que Sirenia foi uma bem popular. Tristania também. Algumas pessoas até mencionaram o Nightwish, mas é claro que não vai rolar! Nós temos duas bandas no fim, com quem estamos finalizando a papelada. Assim que tudo for feito, anunciaremos quem são online.


E: Esse ano será o décimo aniversário da banda. Vocês planejam algum evento especial com alguns convidados, como os membros iniciais da banda ou uma orquestra? Mark disse que vocês gostariam de repetir a experiência do The Classical Conspiracy. Já planejaram algo?


Simone: Sim, nós queremos um show muito especial. Poderia ser no final de 2012, mas nosso foco está mais para o começo de 2013, porque estamos fazendo muitas turnês, e esse é um show que queremos preparar muito bem. Será cheio de exclusividades, vai ser um evento enorme. O aniversário de dez anos é muito especial, então há algo grande vindo!


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